quinta-feira, 10 de julho de 2025

para quê importar-me com a sorte dos meu poemas?



vivo nas margens da escrita
com a chama dum frio que não abala
e um inventário de esperanças,
logo a saudade vem comigo à fala

a vida é uma aventura excessiva
reinvento-me nesse labirinto
que é viver,  e sentir-me viva
nutrindo-me de melancolia
para sobreviver

rememoro poemas, os mais intensos,
ou ali ao acaso
onde a leitura me faz tremer,
o tempo já os vai desvanecendo
- prontos a morrer

desprotegidos, nada justifica
a sua existência
nada os vivifica, ficam escuros
como o fundo duma mina
e nele abafam as lembranças
de menina

chega do silêncio o fastio
os olhos leem até ao esgotamento
abrem-se ao vazio,
com um frio que corta!
- os sonhos tocam ao de leve,
inquieta-me esta mudez,
e o esquecimento
parece, que a vida é coisa morta

para quê importar-me
- com a sorte
dos meus poemas?

natalia nuno
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segunda-feira, 7 de julho de 2025

o tempo que me desafia...



entre a pedra e a urze
sou semente,
o orvalho veste-me de doçura
e eu ferida, inocente
fico sem vida, presente, nem futura

a escrita é o pulsar
que me contêm,
e se me quiser dispôr a perecer
não contará a ninguém

elevo a nostalgia 
à casa dos meus versos,
será cinzento meu abandono
deixar-me-ei tacteando entre sombras
e uma inaudível melodia

deixo mais um poema inquietante
resta-me esta última estação
o espelho mostra o rosto que não encontro
acaba rasgando-me o coração

o tempo pôs a sombra no meu rosto
para me ir enclausurando
com estranha obstinação
o tempo todo me olhando

natalia nuno
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quinta-feira, 3 de julho de 2025

silenciosa passagem...



com o tempo tudo se tornou
saudade
e meu coração é grato
por tanta serenidade,
canto à vida com gratidão

na silenciosa passagem,
como a água dum ribeiro
sigo caminho, levo no rosto,
da madrugada a aragem

mudei ideias e sentimentos
choro até já sem voz,
na noite eternamente surda,
fica meu pensamento veloz
na angustia que a vida
lhe impõe.

o tempo e a incerteza
provocam-me fragilidade
quero seguir com firmeza
e, esquecer, a cruel verdade

uma névoa já me confunde
os passos,
a memória em esquecimento
sem ela vem o nada
quase absoluto vazio
recordações aos pedaços


natalia nuno
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na companhia do silêncio...


as palavras cálidas foram
levadas p'lo vento,
num dia nascido sem horizonte
nenhuma ficou,
- lamento!
não há agora saudade que me afronte.

as recordações desperdicei na hora,
ficaram para trás, deixaram
um sabor nostálgico,
já nada me satisfaz.

mesmo que não existam já palavras
o meu céu se ilumina
e isso me basta!
a esperança em mim
veste-se de menina
a tristeza se afasta.

quero que fique de fora
o medo
contemplo serena a vida
e dos momentos absurdos do
meu esquecimento,
- faço segredo!

esqueço o espelho
nu e velho!
que me observa cruel
sorrio-lhe ainda que vencida
aproveito a longevidade
que me ofereceu a vida,
e vou encarando a realidade.


natalia nuno
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utopia que me move...

o rumor dos pássaros
anuncia o dia,
correm as águas do rio
olho-as, preencho o vazio
enxergo um dia feliz!

será a minha esperança vã
ou será que foi Deus quem 
assim quis?
que este querer meu
esta minha ousadia
de escrever dia após dia,
fosse utopia
que me move?

ouço sussurrar aos ouvidos
a música das águas me revigora
é saudade de volta
sou feliz nesta hora

mas o sonho é breve, do nada
a realidade bate-me à porta
e eu sem coragem,
nem viva nem morta!

cansei de caminhar
acabou o ritmo da corrida
caminhei ao sol e à chuva,
e cabe que nem uma luva 
a saudade em mim!


natalia nuno
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quarta-feira, 2 de julho de 2025

pensamentos perdidos entre si...



este zumbido que enlouquece
restos da festa que soam na mente
como enxame de abelhas em festim
quando o corpo desfalece
e o coração já não sente
é a aproximação do fim

não deixo que o sonho se extinga
jubilosa, festejo ainda a vida
resignada como rosa desfolhada
mas, com vontade que não finda

há coisas que a gente não esquece
olham-se em silêncio as molduras
enquanto o tempo nos envelhece
fica o coração,
- pássaro de penas escuras

como malmequer
que não resiste ao vento
já o sonho vai caindo 
no esquecimento

-e um apertado medo
arqueja na almofada
chora até de madrugada,
o peito estilhaçado em pedaços
clama p'los teus abraços.

natalianuno


do que já não volta...




entra a noite agressora
despoja-me do sono
e do sonho,
o corpo fria mais frio
em submerso abandono
sombras pavorosas
correm no pensamento
difíceis se fazem as palavras
já não são generosas
nem a meu contento

já o desejo não me pertence
só as recordações dão algum alento
e o coração sente
que já nele houve sol a incendiar

amar?!
hoje é nostálgico o sabor
não há caminhos que ofereçam
um possível regresso
neles se cala o amor.

natalia nuno
rosafogo